Empresas, organizações, ONGs, produtos e serviços são meras coisas sem valor e com preço. Mas estão por que paga-se mais, fala-se bem e se reconhece o tênis da Converse e valoriza-se o prego da Gerdau?! Existiu um tempo em que água era simplesmente água, arte era simplesmente arte e reconhecida como tal apenas quando o artista era o indivíduo que possuía um talento e esse era reconhecido ou julgado pela sociedade. Alguns fatores de valorização, distinção e concorrência propuseram mudanças, os apreciadores, espectadores, clientes e marcas mudaram.
A sociedade desde seu princípio foi constituída por um povo e sua cultura, sendo fragmentada em segmentos sociais, níveis hierárquicos e funcionalidades. Cada território ou campo social habitua disputas por poder, o objeto ou símbolo representativo dessa luta integram à educação de geração em geração, conforme Denys Cuche (2002). As crianças são educadas com valores e direcionamentos perante cultura e hábitos que constituem a sociedade e a sua família, o principal capital por qual ela terá que batalhar é predestinado em sua infância – nas Zonas Urbanas do Brasil, provavelmente, o principal capital seja o real, já nas aldeias indígenas o capital que distingue cada segmento social de sua cultura provavelmente seja o acúmulo de alimentos ou a quantia de caça.
No campo artístico a distinção acontece por meio do prestígio que um artista possui perante aos seus pares – outros artistas que integram a mesma categoria e têm competência cultural semelhante. Os artistas que adquirem mais prestígio são reconhecidos proporcionalmente como dominantes de seu campo, enquanto os que somam menos prestígio são reconhecidos proporcionalmente como dominados. Portanto, o jogo de dominantes contra dominados é a disputa que ocorre no campo artístico, porém não são apenas os demais artistas que realizam esse reconhecimento...
Pierre Bourdie |
O prestígio, o real, a marca, o gosto, as afinidades e tantos outros fatores que constituem a personalidade e comportamento de um indivíduo quando expostos ao pequeno e/ou grande grupo, fornecem subsídios para sua primeira impressão. Dentre os espectadores das artes, a identificação que se faz perante aos artistas, também condiz ao seu nível de competência cultural. Bordieu citava que um indivíduo diferencia-se pela relação classe social X gosto artístico – quanto mais alta a classe social, mais competência cultural - ou por uma distinção cultural – formada por tais fatores de distinção: apresentação pessoal, alimentação e consumo cultural.
"O conjunto desses capitais seria compreendido a partir de um sistema de disposições de cultura (nas suas dimensões material, simbólica e cultural, entre outros), denominado por ele de HABITUS". (CULT; 2008; p. 48)
Artistas eram meros artistas, como a água era meramente líquido, sem marca ou identificação. Informação, diferenciação e concorrência estimulam a evolução e a construção de marcas, com a finalidade de estar presente continuamente na mente se um respectivo público alvo. Os artistas contemporâneos tratam de suas obras como mercadorias, formam equipes, ateliers, estúdios e contratam profissionais para executar o que um determinado planejamento objetiva, segundo Gisele Kato na Edição 170 da Bravo! (2011).
Bastava-se ter muito talento e pouco estudo para elaborar uma obra de arte, hoje são necessários profundo estudo, técnica e pesquisa, devido ao acesso às informações e conhecimento facilitado que a grande massa possui para avaliar e criticar. Portanto, a mesma relação que se cria entre um indivíduo e as obras de arte que admira, também se faz presente quando marcas associam artistas e/ ou obras ao seu posicionamento, com a finalidade de moldar seu posicionamento e aproximar-se de seu público alvo.
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Texto produzido para a aula de Comunicação e Arte - Semestre II do Curso de Comunicação Social da Unisinos.